sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Mourir sur scène

Moi je veux mourir sur scène devant les projecteurs
Oui je veux mourir sur scène,
Le cœur ouvert tout en couleur
Mourir sans la moindre peine
Au dernier rendez-vous
Moi je veux mourir sur scène
En chantant jusqu'au bout.

Cândida Branca Flor não morreu no palco. Foi morrendo aos poucos. À medida que foi sendo esquecida pelo público, substituída por outras vozes, outros rostos, mais frescos, mais novos.

A peça “Cândida - Uma história portuguesa”, produção Cassefaz, em cena no Teatro Aberto, é um texto de homenagem à cantora, escrito por André Murraças. Mais do que uma biografia, é uma reflexão sobre a efemeridade da fama, a solidão do artista, a ilusão da vida de artista.

No início da peça, Cândida Branca Flor encontra-se na penumbra e conta-nos o que foi aquela noite. Acabara de acontecer o XIX Festival RTP da Canção. Cândida pariticipou com uma canção do seu amigo Carlos Paião. Ficou em segundo lugar. Não é inocentemente que digo que a Cândida Branca Flor está em cena, na penumbra e que nos conta esta história. Na verdade, por momentos sentimos um arrepio na espinha quando a actriz Sílvia Filipe entra em cena e começa este monólogo. É a Cândida Branca Flor que ali está. A voz, os gestos... é um trabalho brilhante de Sílvia Filipe. A acção passa para o camarim do Teatro Maria Matos nos momentos que antecederam a actuação da cantora. E com ela vivemos os nervos, as frustrações, as histórias, os hábitos, as superstições, a decoração do camarim (delicioso o momento em que retira da sua mala os retratos da santíssima trindade - Carlos Paião, Dalida e Beatriz Costa). Verdadeiro ou ficção, pouco importa.

O texto de André Murraças é uma vez mais inteligente. Distante das suas duas últimas peças "Sex Zombie - a vida de Veronica Lake" (Outubro 2010) e "Três Homens Sós" (Junho 2011), conseguimos ainda assim identificar o humor, a ironia e a elegância dos seus textos.

Apesar do desempenho de S. Filipe e do texto de A. Murraças, há alguma coisa que não funciona. A encenação, de A. Murraças e Paulo Filipe é insípida. Embora pintalgada com alguns momentos interessantes, não se pode dizer que no geral seja uma encenação interessante. Correcta, mas sem alma. E o mesmo se pode dizer do cenário e figurinos da autoria de A. Murraças. Eficazes, mas com uma notória falta de inspiração (a década de 80 potencia muito mais).

O final do espectáculo, uma vez mais "bravo ao texto", dá uma reviravolta que vem reforçar o carácter da ilusão da vida do artista, da fama.

Apesar dos desiquilíbrios, é uma sincera homenagem a Cândida Branca Flor. E a todas as Cândidas deste mundo.

De 0 a 10 é um bom 7.

Fotografia Mário Tavares

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