Moi je veux mourir
sur scène devant les projecteurs
Oui je veux mourir
sur scène,
Le cœur ouvert
tout en couleur
Mourir sans la
moindre peine
Au dernier
rendez-vous
Moi je veux mourir
sur scène
En chantant
jusqu'au bout.
Cândida Branca Flor não
morreu no palco. Foi morrendo aos poucos. À medida que foi sendo esquecida pelo
público, substituída por outras vozes, outros rostos, mais frescos, mais novos.
A peça “Cândida - Uma
história portuguesa”, produção Cassefaz, em cena no Teatro Aberto, é um texto
de homenagem à cantora, escrito por André Murraças. Mais do que uma biografia, é
uma reflexão sobre a efemeridade da fama, a solidão do artista, a ilusão da vida de artista.
No início da peça, Cândida Branca Flor encontra-se na penumbra e conta-nos o que foi aquela noite. Acabara de acontecer o XIX Festival RTP da Canção. Cândida pariticipou com uma canção do seu amigo Carlos Paião. Ficou em segundo lugar. Não é inocentemente que digo que a Cândida Branca Flor está em cena, na penumbra e que nos conta esta história. Na verdade, por momentos sentimos um arrepio na espinha quando a actriz Sílvia Filipe entra em cena e começa este monólogo. É a Cândida Branca Flor que ali está. A voz, os gestos... é um trabalho brilhante de Sílvia Filipe. A acção passa para o camarim do Teatro Maria Matos nos momentos que antecederam a actuação da cantora. E com ela vivemos os nervos, as frustrações, as histórias, os hábitos, as superstições, a decoração do camarim (delicioso o momento em que retira da sua mala os retratos da santíssima trindade - Carlos Paião, Dalida e Beatriz Costa). Verdadeiro ou ficção, pouco importa.
O texto de André Murraças é uma vez mais inteligente. Distante das suas duas últimas peças "Sex Zombie - a vida de Veronica Lake" (Outubro 2010) e "Três Homens Sós" (Junho 2011), conseguimos ainda assim identificar o humor, a ironia e a elegância dos seus textos.
Apesar do desempenho de S. Filipe e do texto de A. Murraças, há alguma coisa que não funciona. A encenação, de A. Murraças e Paulo Filipe é insípida. Embora pintalgada com alguns momentos interessantes, não se pode dizer que no geral seja uma encenação interessante. Correcta, mas sem alma. E o mesmo se pode dizer do cenário e figurinos da autoria de A. Murraças. Eficazes, mas com uma notória falta de inspiração (a década de 80 potencia muito mais).
O final do espectáculo, uma vez mais "bravo ao texto", dá uma reviravolta que vem reforçar o carácter da ilusão da vida do artista, da fama.
Apesar dos desiquilíbrios, é uma sincera homenagem a Cândida Branca Flor. E a todas as Cândidas deste mundo.
De 0 a 10 é um bom 7.
Fotografia Mário Tavares
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