A encenação de António Ferreira
nada acrescenta a este texto. Na verdade não teria de o fazer, se se tivesse
dedicado a uma boa direcção de actores. Às vezes, bons textos pedem apenas
isso, que sejam bem dirigidos e bem interpretados. Sem subterfúgios. Mas ao ver
este trabalho duvidamos que o tenha feito. E duvidamos que tenha percebido a
peça. Nada na sua encenação é original, limitando-se a organizar entradas e saídas
de cena. É penoso ver como as actrizes lutam com o cenário e o encenador a isso
as submete. Justiça seja feita a Diana Costa e Silva cuja personagem sombria se
movimenta silenciosamente em redor daquele espaço (se calhar teve a sorte de não
ter de pular sobre a cama ou entrar para a zona da kitchenet).
E no meio deste desastre queremos
que as actrizes salvem o espectáculo. Mas também não o fazem. C. Gallego não nos
transmite a classe, a frieza, a arrogância e o drama que a personagem requer,
mais preocupada em encontrar a piada e o gag fácil (aliás a sua personagem é
digna de qualquer bêbeda numa tasca de Alfama). Inês Castel-Branco passa quase
despercebida, nem fascinada pela figura de Petra, nem oportunista, nem anarca. Apenas
desfila pelo palco. Sidónia | Paula Mora, amiga de Petra também não ajuda a
compor o ramalhete. Os figurinos que a enchouriçam em cetins brilhantes transformam
a sua personagem numa mulher vulgar (quase que sentimos, na cena em que
apresenta Karin a Petra, que se trata da dona de um bordel a apresentar uma
menina a uma cliente). Cláudia Carvalho | Gabriela Von Kant, filha de Petra,
apresenta-se num figurino (uma vez mais o figurino!) tão pouco credível para
uma filha adolescente, que qualquer esforço de representação que possa fazer é
inválido. Restam Diana Costa e Silva, que compõe uma Marlene tensa, masoquista,
subserviente, credível e até memorável e Isabel Ruth | Valéria Von Kant, mãe de
Petra, cujo porte aristocrático nos transporta finalmente para um ambiente de
alta sociedade, arrogante e preconceituoso que esperámos encontrar desde o início
da peça (ainda que as botas e lenço leopardo me tenham arrepiado).
É francamente um mau espectáculo.
E tendo em conta toda a polémica que rodeou este espectáculo e as trocas de
palavras entre um suposto encenador afastado do projecto e o Director do Teatro
Nacional, esperávamos encontrar um espectáculo brilhante, que fosse uma chapada
de luva branca a todos os que se manifestaram contra a substituição. Mas o
Director perdeu ao defender um encenador que transformou uma peça magnífica num
momento de teatro constrangedor. Não sei se a outra versão seria melhor. Mas
esta, sabemos que é má!
De 0 a 10 é um 2 (1 ponto para a Diana Costa e Silva e outro ponto para a Isabel Ruth).
Publicado na Rua de Baixo.
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