domingo, 8 de julho de 2012

Enquanto vivermos ou Enquanto vivermos podemos experimentar umas coisas!


“Enquanto vivermos” é um projecto de Pedro Gil, que partilha a criação e interpretação com Romeu Costa.

A acção passa-se em 1976, dois anos depois da revolução de Abril, entre bares, pensões, casas de banho, o palco e o vídeo. Ficcionaram uma realidade de uma geração diferente da sua (nasceram ambos na década de 80). Queriam um espectáculo performativo mas que contasse uma história. Acabou por resultar na história de dois homens, amantes, sem perspectivas de constituir família, com trabalhos, que vivem o dia a dia sem pensar no amanhã, sem qualquer vontade de serem politicamente activos. Há referências ao teatro “Ah Q” de Jean Jourdheuil e Bernard Chartreux, encenado por Luís Miguel Cintra e ao cinema “Império dos Sentidos” de Nagisa Oshima, marcos da década de 70. Há uma explosão de liberdade. Sobretudo de liberdade sexual.

A linguagem é crua e a acção explícita, muito in-yer-face theatre. Não deve ser a isto alheio o facto de ambos terem interpretado Shopping and Fucking de Mark Ravehill (Romeu Costa em duas encenações). Mas este é o primeiro deslize deste projecto: se o in-yer-face theatre era novidade e chocante na década de 90, hoje em dia é repetitivo e desnecessário (para não dizer mesmo aborrecido).

E pouco depois do início os criadores perdem o público (algumas pessoas não se coibiram de sair da sala). Estamos mais preocupados em tentar dar sentido ao que estamos a assistir do que a seguir o espectáculo. Quererão contar uma história? Quererão experimentar novas linguagens? De facto, segundo a folha de sala, Pedro Gil pretendia que este espectáculo estivesse na fronteira entre o teatro, a performance e o cinema. Mas acaba por não trazer nada de novo. Utilizar vídeo para contar parte da história não faz com que seja cinema. Percebo que queiram experimentar, mas talvez fosse interessante que vissem outros espectáculos e percebessem que aquilo que querem fazer como algo de novo e extraordinário é feito há décadas. O facto de o actor sair de cena e a acção continuar no vídeo, supostamente filmado no ensaio geral, não traz qualquer tensão ou relevância entre o que se passa no palco e o que se passa no vídeo. Vários poderiam ser os exemplos de espectáculo que utilizam esse recurso. No fim há uma referência a I.(esboço) de Miguel Loureiro que ambos interpretaram e que terá sido a primeira vez que trabalharam juntos. Mas afinal de contas, qual a relevância desse momento? Será esta peça auto-biográfica? A relação das personagens é afinal a relação entre os actores? Ou é essa a referência à performance que pretendiam trazer ao espectáculo?

O espaço cénico é modesto. Um plástico no chão que delimita a cena, duas cadeiras e alguns adereços que vão sendo utilizados para contar a história (um capacete, várias garrafas de água, dois baldes de água – os intérpretes passam o espectáculo a molharem-se um ao outro -, uma peruca, um par de sapatos de salto). Também pouco ou nada acrescenta à confusão do espectáculo. Por um lado, ainda bem!

Ao fim de duas horas saímos um pouco frustrados. Se a história acaba por se clara, não percebemos no entanto o que Pedro Gil quis com o espectáculo. Acaba por soar a pretensioso, tendo em conta o resultado pobre… É pena.

Ouvem-se alguns comentários aqui e ali: São bons actoresO que foi istoGira a cena em que o Pedro faz de mulherEra um pouco revista, nãoOnde vamos a seguir beber um copo?

Foi o que fiz. Fui beber um copo com os amigos e rapidamente a peça deixou de ser assunto.

O espectáculo é uma co-produção com a Culturgest, integrado no Festival de Almada.

De 0 a 10, nota 5.
Publicado na Rua de Baixo.


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