quarta-feira, 4 de julho de 2012

Curtas na Ribeira


Curtas 2012, Mostra de Teatro de Curta Duração é organizada pela companhia Primeiros Sintomas. Na primeira semana foram 5 as propostas apresentadas: Preto e Branco de António Mortágua e David Almeida, O Solene Resgate de Ricardo Neves-Neves, Terroristas #3 de Carlos Afonso Pereira, Miss Portugal de Anabela Brígida e Ex-Simbol de Leonor Cabral. Cada peça numa sala diferente, cada peça com uma duração diferente. Todas curtas. Umas mais que as outras.

Preto e Branco divide-se em dois momentos. Um primeiro a abrir as festividades, o segundo quase a fechar… discute-se a beleza da partida de xadrez (os intervenientes deixam escapar que eles gostam é de futebol), a beleza do movimento da partida de xadrez. É uma momento sui generis, que acaba por ser pouco memorável, algo a que assistimos (como diriam os jogadores de xadrez) en passant.

Passamos a O Solene Resgate. São mais os intervenientes do que os espectadores. Um coro, distribuído por cores conta-nos a história de uma princesa desaparecida e dos esforços para a reencontrar. O importante nesta peça é a utilização do coro, do todo, para o resultado final. Ricardo Neves-Neves dirige estes cerca de 30 elementos com um rigor matemático, que resulta numa interpretação harmoniosa, seja no texto dito em uníssono seja nos momentos musicais (aliás, fica na memória a canção final). É um exercício de forma muito bem conseguido (o texto, um tanto ou quanto non sense pouco acrescenta ao espectáculo).

Seguimos para uma sala pequena (diria mesmo pequena demais tendo em conta a quantidade de público). E de um espectáculo a 30 vozes passamos para Terroristas #3 de Carlos Afonso Pereira, um espectáculo a uma só voz, ou melhor, a um só silêncio. O encenador e intérprete optou por projectar as duas histórias (três se contarmos com a referência à Bíblia). O projecto iniciado em 2008 tem por base histórias de “terrorismo pessoal” como razão para o terrorismo global. A tensão criada pelo silêncio na sala é perturbadora. No final somos questionados: Já magoámos alguém ao ponto de nos poderem chamar terrorista? É uma proposta simples mas muito inteligente que dura 11 minutos e 9 segundos (a imagem final que vemos projectada no corpo do intérprete é 11:09, uma clara alusão ao 11 de Setembro).

Saímos em silêncio e dirigimo-nos para Miss Portugal de Anabela Brígida, que nos recebe com um sorriso na penumbra. O texto de André Murraças conta-nos as aventuras e desventuras de uma mulher que sonha com o concurso das Misses. A sua vida é mercada anualmente pelo concurso. Este foi talvez o momento mais teatral desta primeira semana. A encenação (de Anabela Brígida e Joaquim René) é subtil mas eficaz. No início só vemos o sapato da intérprete, que tem uma enorme borboleta, a borboleta que ela certamente quer ser. Pontualmente há disparos de flashes (lançados pela própria actriz) que iluminam poses tradicionais dos desfiles de Misses. Um vestido cor-de-rosa, uma tiara e um pequeno palco de rosas permitem a Anabela Brígida maravilhar-nos durante cerca de 15 minutos. Vai-nos fazendo sorrir e arranca-nos uma ou outra gargalhada. Delicioso e certeiro o momento final em que interpreta um playback de uma canção de uma outra Miss (americana).

Voltamos en passant pelo Preto e Branco e abrem-se as portas da rua para vermos Ex-Simbol de Leonor Cabral. A intérprete e criadora está num carro, à nossa frente. Quer que seja um momento de libertação, qual Thelma & Louise. Alguma imagens interessantes, mas pouco claras que não permite que se siga a peça com muita atenção. Talvez uma peça demasiado abstracta. De realçar, no entanto, a forma elegante com que Leonor lida com os imprevistos (pessoas que passam, o camião do lixo, carros que querem estacionar no seu lugar).

Preto e Branco - de 0 a 10, nota 4
O Solene Resgate - de 0 a 10, nota 7
Terroristas #3 - de 0 a 10, nota 7
Miss Portugal - de 0 a 10, nota 8
Ex-Simbol - de 0 a 10, nota 5
Publicado na Rua de Baixo.



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